quarta-feira, agosto 04, 2010

Desmascarado

É realmente uma lástima convivermos com uma pessoa pensando conhecê-la para, no fim das contas, confirmarmos que de fato caminhávamos com um desconhecido. Ser enganado, traído, passado para trás nunca foi e nunca será algo agradável. Mas se descobrimos isto, devemos nos alegrar imensamente. Sim! Uma descoberta desta natureza á algo libertador: liberta-nos de sermos enganados e traídos novamente, pelo menos pelos tais enganadores que, enquanto se mantiveram camuflados sob seus disfarces conseguiram ludibriar, mas quando foram desmascarados, seu tempo chegou ao fim.

Seria uma presunção imaginar que alguém conseguiria viver uma vida inteira enganado sem ser desmascarado. As roupas, os disfarces, a estética exterior conseguem ocultar a verdadeira identidade por certo tempo (às vezes tempo demais, eu reconheço), mas não é suficiente para ocultar de todos, o tempo todo. Chegará o momento, certamente, em que o traidor será traído por seu verdadeiro ‘eu’, quem ele realmente é.

A realidade da vida nos mostra que não somos o que comemos, ou o que vestimos, mas o que fazemos. Nossas ações, em uma das próximas esquinas da existência, revelarão quem realmente somos. Jesus, o único que foi cem por cento autêntico, disse certa vez que a boca fala do que o coração está cheio (Mateus 12:34). Somos o que somos por dentro. Podemos mudar roupa, estilo do cabelo; dar uma ‘repaginada’ no visual por meio de cirurgias plásticas; mudar de cidade, de estado, de país, de escola, de emprego, de namorado(a), de cônjuge… mas continuaremos sendo o que somos por dentro.

A história da família de Noé, narrada no livro de Gênesis, nos mostra a realidade de um coração denunciando a verdadeira identidade. Em um desvario Noé “encheu a cara”, ficou de “porre” e, antes de “apagar”, tirou a própria roupa, ficando peladão dentro de sua casa. Cam, seu filho do meio, entrou na casa do pai, viu aquela cena lastimável e, em vez de cobrir a nudez do pai, tratou de descrever para aos irmãos o quadro que viu. Imagino que Cam tenha sido jocoso o suficiente para constranger os irmãos, pois os dois entraram de costas na casa do pai a fim de cobri-lo primeiro, antes de ajudá-lo.

O coração de Cam o denunciou naquele momento. O pai reconheceu no filho uma falha de caráter tão profunda que lançou sobre ele uma maldição que até hoje tem consequências sérias e graves.

Estamos a milhares de anos deste acontecimento, mas o “recheio” do coração de Cam é muito atual. Assim como este rapaz leviano, muitos são os que entram em nossas “casas” (vidas) e nos pegam nus. Em lugar de nos socorrer, tratam logo de procurar outros para dizer o quanto somos asquerosos. Mas, ainda ontem não eram nossos amigos? Não nos tratavam com certa deferência? O que aconteceu é que a nudez da nossa alma sempre provoca reações nas pessoas. Uns saem logo a propagar nossa fraqueza, nossos erros, nossos pecados. Os que agem desta forma revelam quem realmente são: legalistas, intolerantes, sádicos, fariseus. Expondo nossa nudez, expõem nossa fraqueza ao máximo e, desta maneira, sentem-se superiores, melhores, inexpugnáveis. Outros, entretanto, entram no ambiente em que sabem nos encontrarão nus e nos cobrem antes que vejam nossa vergonha. Estes nem ao menos querem nos olhar nesta condição, quanto menos divulgá-la. Estes também são denunciados por seus próprios corações como sendo verdadeiramente: misericordiosos, compassivos, ajudadores, companheiros.

Provavelmente Cam tivesse alguma rusga com seu pai Noé. Quando teve uma oportunidade tratou de abrir o compartimento onde estava armazenado o desejo de vingança. Possivelmente tenha vivido anos sob os disfarces de um bom filho, um ‘parceiro’, mas chegou o momento em que foi denunciado pelo que havia em seu coração. E, neste dia, Cam apresentou ao pai e aos irmãos o verdadeiro Cam.

Não tenha dúvidas: o que você é por dentro é o que você realmente é. É possível que consiga esconder isso de muitas pessoas, mas é certo que não conseguirá esconder de todos o tempo todo.

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