quarta-feira, agosto 18, 2010

Síndrome do "nadismo"


Recentemente assisti, em um programa semanal, uma reportagem sobre um movimento que chegou ao Brasil e que já conta com vários seguidores. Trata-se do “nadismo”. Em suma, este movimento tem reunido inúmeras pessoas em alguns países para fazerem nada. Isso mesmo, para fazerem NADA. Os adeptos se encontram em parques ou em algum local para retiro a fim de ficarem “de papo pro ar”. No Brasil seus seguidores, que já fundaram o clube do nadismo, chegam a citar o seguinte verso de uma música de uma roqueira famosa: “nada melhor do que não fazer nada…” para defenderem o movimento. Os “nadistas” alegam que a vida está muito acelerada, muito corrida, com ênfase no materialismo; por isso o não fazer nada, às vezes, torna-se uma maneira de desestressar.

Ao ver a reportagem lembrei-me de alguns que têm o “nadismo” por filosofia de vida. Estes são os que às vezes correm, às vezes fazem alguma coisa, às vezes produzem, às vezes trabalham, às vezes estudam… Certamente foram vitimados pela “síndrome do nadismo”. Para estes o nadismo não é uma filosofia, um clube, um momento para desestressar, mas uma enfermidade. Neste sentido, o nadismo é nocivo. O remédio se transformou em veneno.

O nadismo pode se transformar em um grande problema se for visto como saída para uma vida sem paz, sem tranquilidade, sem harmonia, sem esperança, sem descanso. Não fazer nada, às vezes, é de fato muito bom, muito embora não seja a melhor coisa a “ser feita” como preconiza a referida roqueira brasileira cantora da música citada acima. Não fazer nado o tempo todo entedia a alma, atrofia a esperança, degenera a fé.

A “síndrome do nadismo” é oposta à fé. O “nadismo”, como filosofia de vida, convida à inati-vidade ao passo que a fé convida à produtividade. À luz deste fato passei a um tempo de reflexão a respeito de tantos nadistas de carteirinha que encontramos na caminhada dentro do Reino de Deus. Em nome de uma suposta vida de fé, não são poucos os que não fazem nada. Na realidade estes parecem viver pela fé dos outros, ancorados na fé dos outros, sustentados pela fé dos outros.

Na Bíblia, mais precisamente no livro de Gênesis, encontramos a narrativa da vida de Abrão: um homem que não conhecia o nadismo, mas também não era vítima do ativismo. Era um homem comum, vivendo entre pessoas comuns, enfrentando problemas comuns a todos os mortais, no entanto teve uma experiência sobrenatural: o Deus do céu, o Altíssimo, o Eterno apareceu-lhe com uma santa convocação: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei” (Gênesis 12:1). O desafio era muito maior do que Abrão poderia abraçar. Por isso, o projeto exigia fé. Precisamos entender que todo projeto de Deus é maior do que nossa capacidade para realizá-lo. Portanto, é veraz a afirmativa que todo nosso trabalho para Deus é um projeto de fé.

Um dos conceitos populares para fé é o seguinte: “um salto no escuro”. O conceito bíblico de fé, no entanto, é o oposto a esta afirmativa. Na Bíblia percebemos que fé é um salto na luz, um salto para a luz, a verdadeira luz, que jamais se apaga. Quem vive por fé, vive na luz, vive na claridade. Segundo a Bíblia, ter fé é ver o que não pode ser visto, esperar pelo que não existe, confiar no que não pode ser tocado. A fé se transforma em olhos, braços e pernas para a alma.

Abrão (cujo significado é ‘pai exaltado’) recebeu uma promessa de Deus de que seria trans-formado em Abraão (que significa ‘pai de muitas nações’). O problema é que sua esposa não podia ter filhos, e ambos já não eram tão novos. O projeto realmente era maior do que um ser humano podia realizar. O convite de Deus para Abrão era para uma caminha de fé e não para se transformar em um “nadista”. Por ter crido e obedecido, este homem ficou conhecido até hoje como o “pai da fé”.

Olhando para o passado, enxergo a vida e o testemunho de Abrão; olhando para o presente deparo com pessoas que estão sendo vitimadas pela síndrome do nadismo. De um lado sou convocado para a ação, de outro vejo a inatividade, o ócio, a ausência de sentido. Não há harmonia entre a síndrome do nadismo e uma vida de fé. A fé requer ação, movimento, certezas, coragem, intrepidez. De forma paradoxal, enquanto espero a direção de Deus, devo continuar a caminhada; mesmo sem enxergar com nitidez devo avançar; ainda que não haja provas concretas devo continuar confiando; ainda que não tenha recebido o que me foi prometido, devo continuar proclamando a materialização da promessa.

Anos atrás uma música que fez muito sucesso aqui no Brasil dizia: “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar cantando coisas de amor”. Isso tem muito a ver com a síndrome do nadismo, cuja tônica é estar à toa, sem fazer nada, apenas com disposição a ver as bandas passarem. A história do pai da fé nos confronta com outra realidade: o Senhor Deus está convidando pessoas que não estão à toa e nem desejam ficar à toa, para fazerem parte da banda e não apenas vê-la passando.

Gidiel Câmara

2 comentários:

  1. Não basta estarmos disponíveis, precisamos ser dispostos.

    Very Good !! (rs)

    Abs.

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  2. Olá, Gidiel

    a ideia do nadismo é igual a do ócio criativo, pratico os dois e me faz muito bem, não é nocivo pelo contrário, você fica em paz consigo mesmo se distrai com leitura, teatro, cinema, amigos, familia, artezanato, ajuda ao próximo, compartilha ótimos momentos, entende melhor este mundo tão corrido, conturbado, barulhento, mal educado e aceita melhor o outro e torce para que o mundo se acalme e siga em frente, saudações

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