Conhecer novas culturas, passar por experiências transculturais, estabelecer contato com povos e raças dos mais diferentes pontos do mundo fazem parte da lista de coisas que aprecio bastante. Não sou um poliglota; faço um bom uso da minha língua mãe e “arranho” alguma coisa em mais dois idiomas, nada mais do que isso. Mas acho sensacional estar em uma outra nação onde não entendo nada do que falam. Desta forma considero a importância de se entender o que os outros querem dizer.
Falar a mesma linguagem é essencial à unidade. Se duas pessoas ou um grupo de pessoas desejam caminhar na mesma direção é essencial que se entendam. Para haver acordo é necessário existir comunicação clara, inteligível. Quando há entendimento, compreensão, é possível se chegar à concordância. Isso gera poder. Isso pode ser bom, muito bom mesmo. Mas pode também ser muito ruim.
A Bíblia narra a história conhecida como a construção da torre de Babel (Gênesis 11:1-9). Este fato ocorreu após o dilúvio. O Senhor Deus havia dado uma ordem para que os descendentes de Noé repovoassem a terra. Todos falavam a mesma língua e isso facilitou que entrassem em acordo quanto ao propósito de construírem uma enorme torre. Até aí, nada de anormal. O problema não estava na torre, mas na intenção, no propósito do coração daquela gente. Aquela torre, para eles, simbolizaria o poder ilimitado que deteriam se estivessem juntos, falando a mesma língua. O povo estava desafiando Deus, o único que é ilimitado ‘sozinho’. Deus é super poderoso, inigualável, inatingível ‘sozinho’. Este foi o problema daquela gente: querer superar Deus. Todos os que tentaram fazer isso fracassaram.
Enfrentar o Todo-Poderoso é um projeto falido, um natimorto. O Senhor, soberano como é, eterno como é, infinito como é, todo sábio como é, tratou de barrar o “projeto Babel”. Em apenas uma fração de segundos as pessoas passaram a não se entenderem porque Deus, Aquele mesmo que tinha autoridade sobre suas vidas, confundiu a linguagem deles. Não havendo entendimento, o “projeto Babel” fracassou e cada um tomou um rumo diferente.
O que eu e você precisamos entender é que falar a mesma língua não implica em trabalhar para o bem; não implica em construir as “torres” que o Criador do Universo deseja que sejam construídas. Podemos falar a mesma língua e percebermos que isso, de fato, nos torna muito fortes, poderosos, influentes. Todavia isso não quer dizer que estamos usando nossa força para exaltar o Nome de Deus.
Há muitos trabalhando em “projeto Babel” nos nossos dias. Falam a mesma língua, entram em acordo, mas o objetivo é a destruição de outra pessoa através da maledicência, calúnia, do desprezo. Quando o objetivo da concordância, da unidade for eminentemente egocêntrico, a destinação da “torre” que está sendo construída será a ruína. Vale ressaltar que uma “torre” pode estar destruída mesmo que continue ‘de pé’. Quando Deus rejeita algum projeto, por maior influência e opulência que apresente, ele não existe para Deus; desta forma, já foi implodido.
Enquanto as pessoas se unem em torno do “projeto Babel”, construindo “torres” a fim de se tornarem cada vez mais fortes, mais poderosas, mais ricas, mais ‘donas’ do mundo, ainda podemos ouvir o Senhor Jesus orientando os discípulos a construírem outro tipo de “torre”, aquela em que Deus é exaltado e glorificado entre os povos. Para isso ele orou ao Pai para que os discípulos fossem um assim como os dois (ele e o Pai) eram um (Jo. 17:11,21,22). Trata-se de um outro projeto, totalmente revolucionário, no qual Deus é o centro e não o homem. Este projeto se tornaria conhecido logo depois como “projeto Pentecostes”.
Novamente um povo estava falando a mesma língua, exercendo uma enorme influência, tornando-se cada vez mais poderoso, mas com um propósito santo: levar uma mensagem de esperança às nações; a partir do Pentecostes do início dos anos trinta da era cristã, uma nova linguagem passou a ser falada: a linguagem do céu. Falar a língua do céu não significa ser ininteligível. Muito pelo contrário, todo aquele que fala esta linguagem é muito bem compreendido, pois a linguagem do céu é a linguagem do amor. Jesus disse aos seus discípulos que eles seriam reconhecidos como sendo ‘povo de Deus’ se falassem e vivessem o amor que haviam recebido dele (Jo. 13:35).
Portanto, podemos afirmar que não basta falar a mesma língua para ser invencível. É imprescindível que se fale a língua do céu, a linguagem do amor que, por sua vez, não pode ser apenas um vocabulário estático, mas uma força em movimento que não pode ser vencida, contida, superada. Esta “torre” ninguém derruba, pois é projeto de Deus.
Gidiel Câmara.
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