terça-feira, maio 03, 2011

Vale Tudo?


Até que ponto podemos e devemos ir para conseguir o que idealizamos, projetamos, desejamos? Terá algum limite o processo para conquistar ou realizar sonhos? Vale todo o preço pedido pelo sucesso? Às vezes estas questões podem parecer um tanto quanto polêmicas. Todavia, não creio que haja polêmica, desde que exista harmonia entre o caminho percorrido, o preço exigido (e pago) e os princípios e valores aos quais a pessoa esteja apegada.
Por exemplo, para muitos os fins sempre justificarão os meios. O objetivo sempre será mais importante que os caminhos percorridos para alcançá-lo. Os que adotam este princípio não sentirão nenhum tipo de culpa, e nem chegarão ao arrependimento, quando tiverem que ferir outra pessoa, pois suas atitudes estão alinhadas com suas convicções. Ao contrário do que alguns possam imaginar, estas pessoas não têm problema com insônia por causa de suas ações. De acordo com seus valores, são felizes e realizadas.
Para outros, entretanto, o sucesso sempre deverá estar atrelado a uma conduta reta, um caráter íntegro. Estes rejeitarão as oportunidades de ascensão na vida se isto implicar em ações desonestas. O caminho em direção ao sucesso, para eles, é muito importante para desconsiderarem os sinais que apontam perigo.
Sei bem que em uma sociedade que normalmente coloca o foco na satisfação dos desejos e não nas condutas corretas para satisfazê-los, valorizar mais o caráter do que o carisma é sempre um grande desafio. Desde a infância aprendemos que devemos lutar pelo que sonhamos e desejamos, sem nos importarmos com a maneira de se conseguir a realização do desejo. Vivemos em um mundo marcado por uma presença maciça de “meninos mimados”. São adultos pirracentos que não se importam em despejar suas frustrações sobre os outros de uma maneira grosseira, quando seus desejos não são atendidos.

Estes meninos mimados e meninas mimadas foram ensinados que por serem belos sempre estão na condição de escolhedores e nunca de escolhidos. Foram ensinados que pelo fato de possuírem bens podem sempre usar as pessoas, e jamais sequer cogitam a possibilidade de servi-las. Nesta realidade imperam as “castas”, ainda que de forma sutil; o canibalismo social, entretanto, pode ser percebido de forma nítida. Os meninos e meninas, que se esqueceram de amadurecer, necessitam de suas babás para realizarem prontamente seus pedidos.
Este problema crônico se agrava ainda mais quando é transferido para a relação entre o ser humano e Deus. Acostumados a conseguir tudo o que desejam por intermédio de sapateios, choro sem lágrimas e berros, estas crianças em corpos de adultos imaginam que conseguirão ser abençoadas do jeito que imaginam, usando as mesmas “táticas”. A questão é que Deus não é um pai leviano e irresponsável como os pais destes mimados e mimadas. Deus não é um pai com o “chinelo” na mão, mas ele não hesita em usá-lo se a disciplina se fizer necessária, para o próprio bem dos seus filhos.
Adultos com comportamentos infantis são protagonistas de cenas ridículas e patéticas. Inúmeras famílias estão se desmoronando porque duas “crianças” se casaram sem terem condição de ser marido/pai ou esposa/mãe. Muitas igrejas são um palco de disputas e guerrilhas porque “crianças” estão na liderança tentando conseguir o que querem por meio de pirraças, berros e sapateios (as tão temíveis chantagens emocionais).
Sou fanzaço da Bíblia porque ela não apenas apresenta a perfeição de Deus, como também não esconde as limitações e falibilidades humanas. As crises de “crianças pirracentas” não foram ocultadas por Deus em sua Santa Palavra. Várias vezes encontramos relatos de pessoas imaturas tentando conseguir o que desejam por meio de táticas infantis. Um destes exemplos pode ser visto no livro de Gênesis (capítulos 29 e 30). Ali encontramos a história de Raquel, uma moça belíssima, atraente, capaz de conquistar o coração de um homem sem muito esforço. Jacó, seu primo que havia acabado de chegar de uma terra distante, ficou apaixonadíssimo por ela tão logo a viu.
Fica um pouco difícil, eu sei, de entender a história, uma vez que vivemos em culturas totalmente distintas e distantes. Naquele tempo havia uma negociação entre o pretendente e o pai da noiva; e foi exatamente o que aconteceu. Jacó decidiu trabalhar (literalmente) para ter Raquel como esposa. Durante sete anos serviu ao seu tio e candidato a sogro, Labão. No fim deste longo período celebrou-se então uma bela cerimônia e Jacó foi para a sua tão esperada e desejada noite de núpcias. Para sua enorme surpresa, ao acordar e olhar para o lado não foi Raquel quem viu e sim Lia, a que era para ser apenas sua cunhada. Lia, a desprezada, por não ser tão bela quanto Raquel, fora dada por esposa em lugar da irmã.
Jacó até tentou devolver a “mercadoria”, mas não teve jeito. O enganador foi enganado desta vez. Todavia, Labão se mostrou favorável a uma nova negociação por Raquel: seriam mais sete anos de trabalhos. Jacó concordou, mas fez uma exigência: “pagamento” adiantado, ou seja, receberia Raquel imediatamente.
E lá estava Jacó com suas duas esposas (que agora, além de irmãs, eram também cunhadas). Jacó demonstrava uma descarada preferência por Raquel. Deus, que tudo vê, agiu em favor de Lia: tornou-a fértil, ao passo que negou fertilidade a Raquel. Lia ia tendo filhos ano após ano. Raquel ia se enfurecendo a cada novo sobrinho que nascia.

Raquel foi acometida por crises de meninice. A menininha mimada tratou de fazer suas pirraças para conseguir o que queria. Usou de vários estratagemas para conseguir o que desejava, e nada de dar certo. Em uma destas crises, tomou Jacó pelo colarinho e, desesperadamente bradou: “dê-me filhos, ou então me mate”. Jacó, certamente sensibilizado, respondeu à esposa amada: “querida, por acaso estou eu no lugar de Deus que lhe fechou o ventre?”.
Estas palavras parecem ter acordado Raquel de sua letargia infantil. A partir daí a menina mimada amadureceu. Deus foi misericordioso com ela; entretanto, somente depois que deixou de ser uma menina pirracenta no corpo de uma mulher que seu desejo foi atendido. Raquel ficou grávida e teve um lindo menino. O nome dado à criança – José – demonstra que a menina havia crescido de vez. José significa: “que o Senhor acrescente mais ainda”. Raquel não mais usou estratégias de menina mimada e pirracenta; entendeu que não vale tudo para conseguir o que deseja. Entendeu, definitivamente, que o melhor é sempre depender de Deus, o Senhor de todas as coisas e pessoas, Aquele que pode acrescentar ainda mais bênçãos àquelas que já foram derramadas por Ele.
Esta história é útil, ainda hoje, para nos ensinar preciosas lições. Eu e você precisamos entender que Deus não cede às nossas pirraças, às nossas chantagens emocionais. É tempo de mudarmos nosso comportamento, amadurecermos e colocarmos toda nossa dependência em Deus. Ele é poderoso para fertilizar nossos “ventres” secos.

8 comentários:

  1. Quando penso em "estatura do varão perfeito", sempre imagino que, em algum aspecto, todos temos um lado criança, um lado imaturo e infantil.
    Que Deus nos liberte e nos faça crescer Nele!

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  2. Concordo com vc Camila.
    Não podemos perder o lado "criança", no que diz respeito à pureza, simplicidade e autenticidade.

    Obrigado pelo comentário.

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  3. Oi Juninho. Gostei muito do que li, alem do belo texto, a comprovaçao (o q para mim nao e novidade(, de suas qualidades literarias e seu discernimento.Parabens. Estou tambem de acordo com o comentario da Camila e com a sua resposta. abraços. seu fa. Lucio

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  4. Ei Lúcio!
    Obrigado pela visita e pelo comentário.

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  5. Muito bom o texto, Gidiel!
    Que Deus continue te usando para a Glória D'Ele!

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  6. Grande Alexandre!
    Agradeço a visita e comentário.

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  7. Gidiel,

    Descobri seu blog e estou sendo muito abençoada com as mensagens. Tomei a liberdade de também compartilhar o texto com a mocidade de Uberaba, que você já conhece bem!

    Continue na direção do Pai e à disposição dEle!

    Abraço

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  8. Ei Gisele!
    Que bom saber que vc passou por aqui.
    Melhor ainda saber que de alguma forma vc foi abençoada.
    Obrigado pela visita e divulgação.
    Abraço em todos de "Beraba".

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