sexta-feira, abril 15, 2011

Nem réu, nem juiz; seja você mesmo

Desde nosso nascimento começamos a nos acostumar com muitas coisas que são inerentes a “este mundo”. Por mais amparada e protegida que uma criança seja, os “costumes deste mundo” não tardarão a se manifestar nela. Dos pais ela herdou aquilo que chamamos na teologia de “semente de Adão”, ou seja, sua alma já nasceu tatuada com a marca da queda. Portanto, podemos afirmar que, a despeito do aprendizado maior ser pelo exemplo, há nesta criança uma tendência em pender para as ações contrárias àquelas que Seu Criador (o Senhor Deus) espera ver nela.
Dentre tantas ações “negativas” que uma pessoa desenvolve no decorrer de sua existência destacaria neste momento a hipocrisia. Este vocábulo significa o esforço que alguém faz por aparecer como bom sem o ser verdadeiramente. Bem no início a criança pode desenvolver a hipocrisia como uma ferramenta para se defender. Isso, entretanto, não legitima suas atitudes hipócritas, e não torna a hipocrisia uma virtude.
Imagino que você já tenha se portado de maneira hipócrita tentando parecer o que não era (e, às vezes, nem desejaria ser) apenas para fugir de um dedo em riste apontado diretamente para você. Estou certo que você consegue me entender, afinal, além de termos a alma tatuada com a marca da queda, vivemos em um mundo marcado por infindáveis julgamentos. O medo de um julgamento faz com que as pessoas convivam com a hipocrisia. O que não pode deixar de ser dito é que tanto os julgadores, como os verdugos também são vítimas da hipocrisia.
Diante deste fato, de um mundo revestido por um manto hipócrita, é absolutamente libertador o fato de sermos “desmascarados”. Quando nos acham sob o manto da hipocrisia, por mais humilhação que isto possa provocar, no fundo, isto implica em uma grande libertação. Somos libertos do medo, da falsidade, da teatralidade, da superficialidade, da inútil tentativa de viver para agradar os outros (que é muito diferente de viver para os outros). Somos libertados da prisão que eu chamaria de “o que vão pensar de mim” para a realidade de uma poderosa transformação interior: somos transportados da dimensão regida pelo desejo de sermos quem os outros desejam, para a dimensão que nos permite ser quem o Criador espera que sejamos.
Parece fácil, mas não é. Se assim o fosse, o mundo não estaria do jeito que está. Sem esta transformação (oferecida gratuitamente por Jesus Cristo) entramos num ciclo que nos leva de vítimas a algozes, ou seja, de julgados e condenados passamos a sermos juízes dos outros. De maneira muito infeliz somos mais implacáveis e inclementes com os que cometem o mesmo tipo de “delito” cometido por nós mesmos (mas mantido em sigilo, acobertados por grossas camadas de hipocrisia). Enquanto outros são acusados, condenados, humilhados e torturados, continuamos no ‘anonimato’. Por isso, antes de sermos libertados deste cárcere, por intermédio da graça de Cristo, não nos assustamos com a “desgraça” dos outros (repito: para mim isso é graça e não des-graça), ao contrário, sentimos uma terrível sensação de prazer. Por que você acha que a imprensa sensacionalista rende tanto?
A Bíblia registra uma história, no capítulo 38 do livro de Gênesis, que nos serve de ilustração com relação a este assunto. Judá, um dos filhos de Jacó, tomou uma mulher em casamento e teve filhos com ela. Crescidos os jovens, um deles, Er, se casou com uma moça chamada Tamar. Er era perverso perante o Senhor, e por isso morreu ainda jovem. A cultura da época dizia que se um jovem morresse sem deixar descendência, o irmão deveria tomar a cunhada por esposa, para que o morto não ficasse sem descendência. Por isso, Onã, teve que se casar com Tamar. Este também era perverso e se recusou cumprir o “levirato”, pelo que também acabou morrendo. Judá tinha ainda outro filho bem mais jovem, não podendo exercitar o Levirato. Tamar, então, voltou para casa dos seus pais a fim de esperar que Selá tivesse idade suficiente para se casar com ela. O tempo passou, Selá cresceu e Tamar foi esquecida por todos, inclusive por seu sogro.
Alguns anos mais tarde Judá ficou viúvo. Certo dia saiu com um amigo para ver a tosquia de suas ovelhas. Informada disso, Tamar disfarçou-se e Judá, julgando ser ela uma “garota de programa” teve uma relação sexual com ela. O “preço” combinado foi um dos cordeiros do rebanho, mas antes disso Tamar exigiu um penhor: o selo, o cordão e o cajado de Judá. Tudo acertado, Judá seguiu seu caminho e Tamar se despiu de seu disfarce.
Tempos depois Judá foi informado que Tamar, sua nora, estava grávida. Imediatamente ordenou que a mulher fosse levada à presença de todos para que fosse morta (assim era tratado o adultério naquele tempo). Antes de ser levada, entretanto, ela pediu que perguntassem ao seu sogro se reconhecia aquele “selo, cordão e cajado”.
O desfecho da história foi outro. O julgador foi desmascarado. Diria mesmo que ele foi liberto do posto de ‘juiz’ e pôde ser ele mesmo, um homem, um ser humano, igual a Tamar, passível de erro, de deslizes, de falhas, de cometer pecados. Enquanto estava julgando outra pessoa por um erro “imperdoável” deixou de olhar para si mesmo sendo, desta forma, impedido de reconhecer os seus próprios desvios e pecados. No caso, a injustiça para com a própria Tamar – Selá já havia crescido e Judá não o casara com ela.
Judá percebeu que Tamar era mais justa que ele. Que bênção para ele! Seu selo, cordão e cajado foram encontrados. Uma aparente humilhação diante dos amigos sobre os quais ele tinha certa influência. Digo ‘aparente’ porque na realidade foi uma tremenda libertação: conheceu uma terceira via – ser ele mesmo (antes conhecia apenas duas: ser vítima ou algoz; réu ou juiz).
Talvez você, que lê este artigo, conheça também apenas estas duas vias e viva pulando de uma para outra: ora é vítima, ora é algoz; ora é réu, ora é juiz. A boa notícia para você é que Jesus quer apresentar-lhe uma terceira via: a sinceridade; você ser “você” sem medo de ser julgado, humilhado, hostilizado e condenado. Ele disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (Mateus 11:28,29).
Você é um abençoado se seu “selo, cordão e cajado” forem descobertos. Os momentos de humilhação serão transformados em momentos de glória.
Infeliz é você, se imagina que julgando os outros por cada deslize deles conseguirá manter escondidos seu “selo, cordão e, cajado”. Aliás, uma pergunta se faz pertinente neste momento: você sabe onde eles estão?

Gidiel Câmara

4 comentários:

  1. Muito bom o texto Pastor!! Como sempre!
    Já tava com saudades dos seus textos!
    Grande abraço!
    Deus abençoe sempre!

    ResponderExcluir
  2. Aprendi tanto com isso meu irmão,penso e olho para minha vida,um milhão de vezes, antes de abrir minha boca para julgar alguém...grande abraço !!

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pelas palavras, Alexandre.
    Eu já estava quase "enferrujando" - rs.

    ResponderExcluir
  4. Eu tb tenho aprendido muito, Cristina. Graças a Deus que recebe, através de Jesus todos nossos "selos, cordões e cajados" que estavam escondidos.
    Abraço e..
    obrigado pelo comentário.

    ResponderExcluir

Sua participação, comentando as postagens, é uma forma de contribuir com o melhoramento do blog.