Tenho a felicidade de ter sido abençoado por Deus com a paternidade. Sou pai de dois meninos que já estão entrando na adolescência. Lembro-me vividamente dos dias nos quais os dois ainda eram apenas bebês que precisavam ser alimentados com mamadeiras e sopinhas. Normalmente eles consentiam com tudo aquilo que nós lhes oferecíamos. Era uma maravilha! O consentimento dos dois vinha acompanhado de sentimentos muitos especiais: alegria e prazer. Eu ficava todo orgulhoso dos meus dois rebentos; eles comiam de tudo. Mas, um belo dia (hoje já nem sei se posso chamá-lo de tão belo assim), eles simplesmente decidiram não consentir mais com os legumes que lhes eram oferecidos. Não posso esquecer também das verduras. E isso foi se alastrando: um dia acabou a simpatia pelo leite; em outro dia aquela bolacha outrora tão deliciosa e desejada deixou de ser guloseima e sobrou no pote. Hoje é muito mais fácil listar o que eles comem do que o que não comem. Estou bem certo que esta minha experiência encontra “eco” em muitas residências (na maioria delas, assim creio).
Lembrando destes dias tão trabalhosos, mas tão prazerosos, fico a refletir sobre a similaridade destes fatos com o que ocorre conosco em outras esferas da vida. Houve tempo em que consentíamos com um sentimento bom com as regras da casa, dos pais, da família. “Da noite para o dia”, entretanto, o consentimento se transformou em dissentimento e, em alguns casos, descambou para a rebeldia. Para alguns destes casos não encontramos uma explicação que nos convença do proveito de tal discordância. Não foram poucas as vezes em que levantamos a bandeira dos rebeldes sem causa.
Na vida existem conceitos, princípios, ideias, caminhos, filosofias que não devem receber o nosso consentimento. Ainda que tudo nos seja apresentado em um embrulho atraente, precisamos aprender a discernir, descobrir o que vem escondido naquele invólucro. A Bíblia afirma que muitos caminhos com uma aparência de pavimentação perfeita podem esconder um fim desastroso. Por outro lado, há muitas situações na vida que merecem nosso consentimento com sentimento, ainda que sua aparência não nos atraia. Nem tudo que é bom e proveitoso para nossa edificação e amadurecimento conta com uma aparência convidativa.
Assisti a um vídeo nestes dias no qual eram apresentadas dez razões para uma pessoa preferir o inferno ao céu. Todas as dez estavam envoltas por apelos aos olhos. O idealizador do vídeo estava de fato convencido que era muito melhor ir para o inferno, pois lá estavam todas as coisas que estão comprometidas com o oferecimento de prazer imediato. Ele de fato consentia com sentimento com aquelas ideias. Todavia, era um sentimento que o arrastava para um local extremamente perigoso, portanto, um sentimento nocivo, ainda que fosse prazeroso. O que define se um sentimento é bom ou ruim é o resultado que ele pode provocar para a vida de uma pessoa na eternidade.
Na Bíblia encontramos a história de um adolescente que decidiu consentir com uma situação que poderia representar sua própria morte. O livro de Gênesis (capítulo 22) narra o episódio em que Abraão, um homem então com cerca de cento e dezessete anos de idade, recebeu de Deus uma ordem para levar seu filho Isaque, com apenas dezessete anos, para ser oferecido como sacrifício ao Senhor. O filho inicialmente não tinha conhecimento desta ordenança. Sentiu-se extremamente honrado e privilegiado por ser convidado pelo pai para oferecer sacrifício ao Senhor, mesmo que isso envolvesse uma longa viagem.
Depois de dias viajando, chegaram ao local indicado por Deus. Isaque entendeu que seu envolvimento naquela situação ultrapassava os limites de uma mera participação como coadjuvante. Subindo aquele monte, notou que faltava o principal para um sacrifício: o próprio sacrifício. Somente para confirmar suas suspeitas ele pergunta ao pai sobre o animal para o sacrifício e ouve como resposta: “o Senhor Deus já preparou para ele mesmo o sacrifício, filho”.
Você conhece esta história? Alguma vez já se imaginou no lugar de Isaque? O que você faria se fosse aquele adolescente que caminhava, agora de forma consciente, para seu próprio martírio? Rebelaria e fugiria ou continuaria a caminhada com a firme decisão de consentir com aquele projeto “maluco”? Quero dizer para você que, mesmo antes de meditar nesta história, eu agi muitas vezes de maneira oposta àquela escolhida por Isaque. Muitas vezes fugi; desci a montanha em disparada, quando percebia que eu seria a oferta para Deus. Sabe por que agia desta maneira? Porque conhecia um outro deus. O deus que eu conhecia não se importava o suficiente comigo para ser merecedor da minha vida. Por isso eu mesmo tomava contra dela (bom, pelo menos eu pensava que tomava conta. Hoje eu sei muito bem que mesmo sem conhecer o Deus verdadeiro, Ele tomava conta da minha vida).
Chegando ao alto da montanha o altar do sacrifício foi preparado; todo o ritual estava devidamente pronto. Faltava apenas o sacrifício. Imagino aquela cena tomada por um silêncio absoluto. Sem palavras Isaque se deitou no altar. Mesmo sem palavras, ele gritava para os céus, para o pai, para os anjos de Deus e os anjos caídos que ele consentia com muito sentimento com aquele momento. Consentia com sentimento em ser uma oferta viva para Deus. Consentia com sentimento em participar de um momento no qual seu pai estava sendo provado ao extremo.
Isaque em momento algum foi forçado a participar daquela prova tão dura. Durante todo o tempo vemos nele uma atitude de consentimento, mas não de uma forma passiva. Seu consentimento envolvia muito sentimento; envolvia uma atitude de coragem, de fé, de dependência de Deus. Na Bíblia Abraão recebe o título de pai da fé, mas eu colocaria Isaque no mesmo nível de fé que seu pai.
Na vida nós estamos sempre consentindo e dissentindo. Minha pergunta para você hoje é: com o que você está consentindo a respeito do Reino de Deus? Este consentimento vem acompanhado por qual tipo de sentimento? Estaria disposto a se deitar no “altar do sacrifício” como uma prova do seu consentimento com sentimento? Estaria disposto a oferecer a Deus sua vida toda por toda a vida?
Gidiel Câmara
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