Somos seres que alimentam sonhos e desejos no coração e na alma. Não
seria tão difícil voltarmos alguns anos no tempo a fim de nos lembrarmos dos
muitos sonhos que povoaram nossa mente quando éramos apenas crianças. Sonhamos
em ser bombeiros, professores, jogadores de futebol, policiais, astronautas,
engenheiros… Nesta fase da vida os sonhos com as profissões vinham e iam velozmente.
Os anos foram passando e a vida foi assumindo forma mais definida e tomando
direção mais estável. Na fase adulta, já não dá mais para brincar de profissão.
Fomos atraídos por alguma das inúmeras áreas que são possíveis de serem
abraçadas na caminhada profissional. O que nos levou a esta ou aquela? Possivelmente
haja mais de uma resposta. O fato é que você é algo (ou está algo), em se tratando de
vida profissional.
A proposta para este momento de reflexão é olharmos um pouco para trás com a intenção de resgatarmos um pouco da simplicidade dos nossos sonhos de infância. A maioria de nós desejava ser uma coisa ou outra pela beleza da profissão, ou pelo bom referencial que alguém que trabalhava nesta ou naquela área exercia sobre nossas mentes infantis, puras e sonhadoras. Boa parte das crianças desejava ser este ou aquele profissional com a intenção de servir, contribuir, espalhar o bem.
De forma infeliz a simplicidade foi sendo substituída pela disputa,
competitividade, frustração e ausência de realização em um nível elevado (este
deveria ser o objetivo real). O retorno deveria ser uma consequência natural e
não a primeira razão da busca pelo exercício de uma profissão (qualquer que
fosse, desde que lícita).
Saindo do universo infantil entramos em uma fase em que os sonhos
correm o risco de deixarem de ser guiados e alimentados pelos ideais, passando
a ser assediados pela sedução do poder, das posses, do “glamour”, da
ascendência, da dominação… O risco envolve a sedução por cifras. Seduzidas, as
“crianças” desaparecem e dão lugar a “lobos vorazes” que lutarão entre si pelo
posto de “macho alfa” da matilha.
Quantos perderam a criança sonhadora!
A Bíblia – Palavra de Deus – narra uma história de uma destas “crianças” que foram seduzidas pela possibilidade de comandar, governar; possibilidade de ser celebridade (ainda maior do que era). No livro do Êxodo, no deparamos com um momento específico da história de um homem chamado Arão. Ele era irmão de Moisés; este sim um líder espetacular, separado, chamado e treinado pelo próprio Deus para ser o “condutor” de um projeto gigantesco, inimaginável por uma mente humana. Arão, apesar de ser o irmão mais velho de Moisés, era seu auxiliar na liderança do povo de Israel, o chamado “povo de Deus”.
Houve um momento em quem Deus chamou Moisés para um local mais
reservado a fim de passar-lhe instruções quanto à formação e constituição
daquele povão em uma nação. Os dias
correram sem que Moisés desse qualquer “notícia”. No meio do povo havia os
descontentes (onde não existe este tipo gente?!). Eles aproveitaram a situação
para seduzirem Arão e o induzirem a cometer uma sandice: tomar o lugar do
irmão. Afagaram seu ego. Superestimaram sua liderança. Hiperbolizaram suas
capacidades e habilidades. Foi o suficiente para que o auxiliar vislumbrasse a
possibilidade de ser reverenciado como “O” líder.
Tendo abocanhado a isca, Arão tornou-se um tolo; como tolo, não
poderia cometer outra coisa, a não ser tolice e loucura: ele conduziu o povo
pela via da idolatria, permitindo a soltura dos freios de contenção dos desejos.
O resultado foi catastrófico: uma multidão se perdeu em adoração a uma
escultura de ouro em forma de um bezerro. A loucura foi disfarçada por festejo
e celebração a um deus estranho; um deus que enjaula, manieta, suga as
sensibilidades, enfeia e aprisiona a alma e provoca a morte espiritual (morte
espiritual = distanciamento do Criador).
O verdadeiro Autor da vida, o verdadeiro Libertador daquele povo
estava sendo trocado por uma escultura. Esta provocação custou muito àquelas
pessoas. Muitos morreram, outras centenas de milhares tiveram que suportar anos
de punição por aquela atitude extremamente infeliz.
Ao ceder àquele tipo de sedução, Arão disparou o gatilho da idolatria, que já estava armado. Seu desejo de ser maior do que os outros levou centenas
de milhares a se afastarem da verdadeira adoração. Sua vontade de ser o
primeiro empurrou centenas de milhares para uma situação deplorável. Pobre
Arão! Permitiu que seus sonhos fossem manipulados por aqueles que usavam da
sedução para desencaminharem pessoas de bem. O erro de Arão não foi sonhar, mas
sim trilhar um caminho obscuro para alcançar sua realização.
Quantos como Arão nos nossos dias! Permitem que o brilho das seduções
desta terra substitua o fulgor da glória do Criador em suas vidas. São levados
a adorarem coisas, cargos, posses, bens, pessoas… e abandonam a adoração ao
único que é merecedor dela.
Vitorioso na caminhada da existência é aquele que não cede à sedução
de atingir o “topo” sem observar o caminho a ser trilhado para chegar lá.
Vitoriosos são os que entendem que seus sonhos, quando realizados, devem ser “fontes”
e não “represas”; desta forma estarão honrando ao Criador, ao invés de
desafiá-lo. Felizes são os que confrontam a sedução de grandeza com um espírito humilde.
Cuidado com esse tipo de sedução! Seu brilho, apesar de intenso, é fugaz. Cuidado para não trocar um valor eterno por um prazer efêmero.
Gidiel Câmara Jr.