Quando era apenas um garoto ficava imaginando como seria ser grande (acho que ainda não descobri… pelo mesmo na estatura). As coisas que um garoto de 18 anos podia fazer, sempre exercia certo fascínio sobre os meninos da minha geração. Afinal, eles podiam chegar em casa depois das nove da noite, podiam frequentar certos ambientes, namorar sem ter que se “esconder”… Uma listinha um tanto quanto fútil, mas este estágio era algo que desejávamos alcançar. Na minha história este “nível” foi atingido antes dos “dezoito”, porque saí da casa dos meus pais antes dos quatorze para estudar. Quantas “cabeçadas” provocadas pela infeliz falsa sensação de liberdade! Anos mais tarde cheguei à conclusão que a “chave da casa” não é a causa verdadeira da tão sonhada e desejada liberdade. Ser livre é muito mais do que poder ir e vir, abrir e fechar e, tampouco, é sinônimo de fazer o que deseja. Liberdade está relacionada com responsabilidade, e isto extrapola a satisfação de desejos.
Hoje fico refletindo sobre as aspirações por crescimento que inundava nossas almas (a minha e a dos meus companheiros de caminhada). Olho para trás e percebo que muitos apenas envelheceram sem amadurecer. Ficaram adultos fisicamente, mas com a alma atrofiada. Em alguns casos a desnutrição da alma é algo constrangedor. Imagino que você já tenha visto estes “menininhos” de alma, fazendo pirraça nos corredores dos “supermercados e shoppings da existência” tentando conseguir o que desejam. Pois é, crescer é mais do que se tornar adulto. Crescer de verdade implica sintonia entre corpo, alma e espírito. Diante disto, o que se tem visto é muita gente apodrecendo em vez de crescer e amadurecer.
Uma pergunta surge, então: quando posso considerar que cresci, de fato? Cresço quando entendo que a vida é um processo, uma jornada e não uma corrida de tiro curto. Cresço quando percebo que sem paciência, etapas vitais serão suprimidas, “queimadas”, não sem consequências, obviamente. Cresço quando sou conscientizado de que o mundo é um pouco maior do que minhas fronteiras, não apenas geográficas, mas, sobretudo, emocionais. Cresço quando compreendo, e aplico esta verdade – que independência não é sinônimo de que não preciso de ninguém – isto é, sem dúvida, uma excelente maneira do não estabelecimento de relacionamentos meramente utilitários. Cresço quando vivo firmado na verdade de que não sou menos quando sou menor, ou seja, a estatura do meu caráter é sempre o referencial para o meu verdadeiro tamanho. Cresço quando aprendo de verdade com as perdas e momentos de decepções e humilhações. Cresço verdadeiramente quando aprendo a me diminuir em benefício de propósitos muito mais elevados do que meus desejos pessoais.
Creio que poderia exemplificar melhor esta questão do verdadeiro crescimento tomando emprestada a história de um “grande” homem da história. Seu nome? José, ou José do Egito, como é mais comumente conhecido. Este foi um dos grandes homens, um grande nome da história do povo israelita e, por que não dizer, da história do Egito antigo também.
Antes de ser “grande” ele teve que aprender a ser pequeno; bem pequeno. Note bem: ele teve que “aprender”. Sua história foi marcada por uma sucessão de perdas e descidas, antes de ser ascendido a uma posição de muita importância na nação mais importante do mundo do seu tempo. De caçula de dez irmãos, muito protegido pelo pai, provavelmente entendia que havia nascido para ser superior aos outros. Entretanto, a vida lhe preparou muitas surpresas (na verdade ele veio reconhecer e confessar que era o próprio Deus o autor destas surpresas). Do alto de sua convicção de superioridade, foi precipitado para o fundo de uma cisterna. Que queda! Mas, este fato representava apenas o início do “tobogã”. Dali em diante a queda foi vertiginosa: deserto, praça de escravos, escravidão, calúnia, condenação, masmorra, isolamento, abandono, esquecimento… O fundo do fundo do poço da existência. Tudo perdido? Não! Pelo menos não para Aquele que estava no comando deste processo formatador.
José havia chegado ao ponto certo para crescer de verdade. Quando entendeu que ele, por ele mesmo, pelos próprios esforços divorciados da ação divina, não seria verdadeiramente grande, estava, enfim, pronto para o crescimento real, homogêneo (lembra? Corpo, alma e espírito!). Para ser grande para Deus e por Deus, José precisava ser esvaziado de qualquer tipo de ideia de merecimento ou recompensa. Todos os “grandes” de Deus, sem exceção, passaram por este processo.
A grandeza de José pode ser vista em suas atitudes. Quando convocado para estar diante do poderosíssimo Faraó, compareceu despojado de toda ideia de reparação, ou seja, não pensava ser aquele fato uma oportunidade para convencer o mandatário da nação sobre as injustiças das quais tinha sido vítima. Aliás, se há algo que não percebemos neste “grande” homem é o sentimento de que era uma vítima (apesar de ser uma).
Uma grande evidência do crescimento de José pode ser percebida na postura adotada por ele depois de ter sido nomeado o segundo homem mais importante do império. Tal posição lhe conferia muito poder. Seria o momento de “acertar as contas” com todos os que contribuíram para seus longos anos de prisão: Potifar e sua esposa, por exemplo. Podia também ativar a memória do seu ex-companheiro de prisão, que se esquecera completamente dos benefícios recebidos por intermédio de José.
Todavia, a prova cabal de que este homem havia crescido de verdade, e era, naquele momento, um “grande homem” foi revelada no reencontro com seus irmãos, os mesmos que o odiaram, tramaram contra ele e o venderam como escravo. José poderia devolver aos irmãos toda maldade recebida por eles, e isto com juros e correções. Afinal vinte anos já tinham se passado. Mas, José havia crescido. Somente os pequenos sonham com vingança. Somente quem rasteja pela existência deseja a miséria para os outros. José escolheu o caminho superior, o caminho do perdão, da reconciliação. Você sabe por quê? Porque ele estava absolutamente convicto que todos seus adversários, toda calúnia, toda palavra maldita lançada contra ele, não passavam de instrumentos de Deus para fazê-lo crescer.
Esta história é uma das mais lindas de toda a Bíblia (pelo menos para mim). O “grande” José não escolheu ser grande sozinho. Ele estava disposto a ser usado por Deus para que sua família toda, pai e irmãos, pudessem crescer também; pudessem experimentar o crescimento vindo de Deus e para Deus.
José demonstrou que para ser grande de fato, precisava ser o menor de todos. Obrigado José! Obrigado pelo exemplo! Quero abraçá-lo demoradamente quando encontrá-lo no céu.
Não poderia encerrar esta reflexão sem me dirigir a você com as seguintes perguntas: “você cresceu? Você quer ser grande?”. Se realmente seu desejo é ser grande, ou apenas crescer, é muito importante que deixe de lado esta teologia bobinha e pregação irresponsável de que você foi criado para ser um sucesso. Quem disse isto a você não tem o aval do Criador. Este crescimento e grandeza, que são o conteúdo desta teologia e destas pregações, são terrenos. Eu não os quero.
Quero poder dizer com toda propriedade: “eu cresci!”. Quero estar diante de quem me quer mal e oferecer o bem a eles. Quero poder viver anonimamente sem ser afetado pela síndrome da insignificância. Só posso dizer: “cresci” se Cristo cresceu em mim. Fora disto é só enganação e ilusão de ótica.