sábado, julho 23, 2011

Cresci...


Quando era apenas um garoto ficava imaginando como seria ser grande (acho que ainda não descobri… pelo mesmo na estatura). As coisas que um garoto de 18 anos podia fazer, sempre exercia certo fascínio sobre os meninos da minha geração. Afinal, eles podiam chegar em casa depois das nove da noite, podiam frequentar certos ambientes, namorar sem ter que se “esconder”… Uma listinha um tanto quanto fútil, mas este estágio era algo que desejávamos alcançar. Na minha história este “nível” foi atingido antes dos “dezoito”, porque saí da casa dos meus pais antes dos quatorze para estudar. Quantas “cabeçadas” provocadas pela infeliz falsa sensação de liberdade! Anos mais tarde cheguei à conclusão que a “chave da casa” não é a causa verdadeira da tão sonhada e desejada liberdade. Ser livre é muito mais do que poder ir e vir, abrir e fechar e, tampouco, é sinônimo de fazer o que deseja. Liberdade está relacionada com responsabilidade, e isto extrapola a satisfação de desejos.
Hoje fico refletindo sobre as aspirações por crescimento que inundava nossas almas (a minha e a dos meus companheiros de caminhada). Olho para trás e percebo que muitos apenas envelheceram sem amadurecer. Ficaram adultos fisicamente, mas com a alma atrofiada. Em alguns casos a desnutrição da alma é algo constrangedor. Imagino que você já tenha visto estes “menininhos” de alma, fazendo pirraça nos corredores dos “supermercados e shoppings da existência” tentando conseguir o que desejam. Pois é, crescer é mais do que se tornar adulto. Crescer de verdade implica sintonia entre corpo, alma e espírito. Diante disto, o que se tem visto é muita gente apodrecendo em vez de crescer e amadurecer.
Uma pergunta surge, então: quando posso considerar que cresci, de fato? Cresço quando entendo que a vida é um processo, uma jornada e não uma corrida de tiro curto. Cresço quando percebo que sem paciência, etapas vitais serão suprimidas, “queimadas”, não sem consequências, obviamente. Cresço quando sou conscientizado de que o mundo é um pouco maior do que minhas fronteiras, não apenas geográficas, mas, sobretudo, emocionais. Cresço quando compreendo, e aplico esta verdade  que independência não é sinônimo de que não preciso de ninguém – isto é, sem dúvida, uma excelente maneira do não estabelecimento de relacionamentos meramente utilitários. Cresço quando vivo firmado na verdade de que não sou menos quando sou menor, ou seja, a estatura do meu caráter é sempre o referencial para o meu verdadeiro tamanho. Cresço quando aprendo de verdade com as perdas e momentos de decepções e humilhações. Cresço verdadeiramente quando aprendo a me diminuir em benefício de propósitos muito mais elevados do que meus desejos pessoais.
Creio que poderia exemplificar melhor esta questão do verdadeiro crescimento tomando emprestada a história de um “grande” homem da história. Seu nome? José, ou José do Egito, como é mais comumente conhecido. Este foi um dos grandes homens, um grande nome da história do povo israelita e, por que não dizer, da história do Egito antigo também.
Antes de ser “grande” ele teve que aprender a ser pequeno; bem pequeno. Note bem: ele teve que “aprender”. Sua história foi marcada por uma sucessão de perdas e descidas, antes de ser ascendido a uma posição de muita importância na nação mais importante do mundo do seu tempo. De caçula de dez irmãos, muito protegido pelo pai, provavelmente entendia que havia nascido para ser superior aos outros. Entretanto, a vida lhe preparou muitas surpresas (na verdade ele veio reconhecer e confessar que era o próprio Deus o autor destas surpresas). Do alto de sua convicção de superioridade, foi precipitado para o fundo de uma cisterna. Que queda! Mas, este fato representava apenas o início do “tobogã”. Dali em diante a queda foi vertiginosa: deserto, praça de escravos, escravidão, calúnia, condenação, masmorra, isolamento, abandono, esquecimento… O fundo do fundo do poço da existência. Tudo perdido? Não! Pelo menos não para Aquele que estava no comando deste processo formatador.
José havia chegado ao ponto certo para crescer de verdade. Quando entendeu que ele, por ele mesmo, pelos próprios esforços divorciados da ação divina, não seria verdadeiramente grande, estava, enfim, pronto para o crescimento real, homogêneo (lembra? Corpo, alma e espírito!). Para ser grande para Deus e por Deus, José precisava ser esvaziado de qualquer tipo de ideia de merecimento ou recompensa. Todos os “grandes” de Deus, sem exceção, passaram por este processo.
A grandeza de José pode ser vista em suas atitudes. Quando convocado para estar diante do poderosíssimo Faraó, compareceu despojado de toda ideia de reparação, ou seja, não pensava ser aquele fato uma oportunidade para convencer o mandatário da nação sobre as injustiças das quais tinha sido vítima. Aliás, se há algo que não percebemos neste “grande” homem é o sentimento de que era uma vítima (apesar de ser uma).
Uma grande evidência do crescimento de José pode ser percebida na postura adotada por ele depois de ter sido nomeado o segundo homem mais importante do império. Tal posição lhe conferia muito poder. Seria o momento de “acertar as contas” com todos os que contribuíram para seus longos anos de prisão: Potifar e sua esposa, por exemplo. Podia também ativar a memória do seu ex-companheiro de prisão, que se esquecera completamente dos benefícios recebidos por intermédio de José.
Todavia, a prova cabal de que este homem havia crescido de verdade, e era, naquele momento, um “grande homem” foi revelada no reencontro com seus irmãos, os mesmos que o odiaram, tramaram contra ele e o venderam como escravo. José poderia devolver aos irmãos toda maldade recebida por eles, e isto com juros e correções. Afinal vinte anos já tinham se passado. Mas, José havia crescido. Somente os pequenos sonham com vingança. Somente quem rasteja pela existência deseja a miséria para os outros. José escolheu o caminho superior, o caminho do perdão, da reconciliação. Você sabe por quê? Porque ele estava absolutamente convicto que todos seus adversários, toda calúnia, toda palavra maldita lançada contra ele, não passavam de instrumentos de Deus para fazê-lo crescer.
Esta história é uma das mais lindas de toda a Bíblia (pelo menos para mim). O “grande” José não escolheu ser grande sozinho. Ele estava disposto a ser usado por Deus para que sua família toda, pai e irmãos, pudessem crescer também; pudessem experimentar o crescimento vindo de Deus e para Deus.
José demonstrou que para ser grande de fato, precisava ser o menor de todos. Obrigado José! Obrigado pelo exemplo! Quero abraçá-lo demoradamente quando encontrá-lo no céu.
Não poderia encerrar esta reflexão sem me dirigir a você com as seguintes perguntas: “você cresceu? Você quer ser grande?”. Se realmente seu desejo é ser grande, ou apenas crescer, é muito importante que deixe de lado esta teologia bobinha e pregação irresponsável de que você foi criado para ser um sucesso. Quem disse isto a você não tem o aval do Criador. Este crescimento e grandeza, que são o conteúdo desta teologia e destas pregações, são terrenos. Eu não os quero.
Quero poder dizer com toda propriedade: “eu cresci!”. Quero estar diante de quem me quer mal e oferecer o bem a eles. Quero poder viver anonimamente sem ser afetado pela síndrome da insignificância. Só posso dizer: “cresci” se Cristo cresceu em mim. Fora disto é só enganação e ilusão de ótica.

terça-feira, julho 12, 2011

Despindo-se das "roupagens cenográficas"

A falta de sintonia entre o desejo de ascender, crescer, prosperar, amadurecer e o tempo de treinamento para atingir este fim, tem gerado muitas angústias, decepções, frustrações e até mesmo revolta. Isto é fruto de muita “propaganda enganosa”. As pessoas compram a ideia de que podem ser tele transportadas para um estágio bem mais avançado, evitando assim toda dor, suor, fadiga… investimentos que são partes indispensáveis do treinamento, da preparação para todos os que desejam de fato crescer na vida. A lei do menor esforço pode ser a mais atrativa, mas certamente é a menos recomendável.

Indispensável também é definir que tipo de crescimento está sendo desejado. A quem ele beneficiará? Que resultado produzirá? Quem receberá a honra e louvor no “fim das contas”? Talvez isto não faça diferença para a maioria, mas é de fundamental importância sabermos a quem desejamos agradar. A importância se deve ao fato de vivermos em um contexto no qual somos medidos muito mais pelo que produzimos, conquistamos, alcançamos do que pelo que realmente somos. Decorre daí o risco de apenas representarmos um personagem durante nossa passagem por esta vida, sem jamais ter o privilégio de descobrir, experimentar e desfrutar o prazer e alegria e sermos quem somos de verdade. Desde muito cedo aprendemos a nos cobrir com muitas camadas de “roupas cenográficas”. Com o passar do tempo elas nem nos incomodam mais. O verdadeiro sucesso na vida não está em quanto amealhamos na nossa caminhada, mas sim em nos livrarmos destas roupagens que não nos pertencem. Este processo, todavia, não é nada fácil e muito menos confortável. Muita dor e vergonha estão envolvidos, afinal, quem é que se sente confortável em ser visto SEM NADA?

A intenção do Criador é levar-nos a um ponto em que as “roupagens cenográficas” nos incomodem tanto que passemos a desejar ardente e intensamente nos livrarmos delas. Este desejo é fruto de um convencimento do próprio Criador, colocado no mais profundo da nossa alma, do nosso espírito; um desejo de descobrirmos a razão da existência, o propósito da vida; um desejo de viver eternamente mesmo que para isso tenhamos que passar por um processo de metamorfose radical. Quando chegamos a este ponto estamos prontos para o início de uma caminhada sem retorno, sem atalhos. A partir deste momento nos submetemos ao bisturi do Criador. O processo envolverá dor, perdas, incompreensões, dúvidas que nos levarão ao conhecimento do propósito eterno de Deus para nossas vidas. Somente quando estivermos SEM NADA, no sentido de estarmos “nus” diante do Criador é que reconheceremos nossa inteira dependência Dele.


Na Bíblia encontramos algumas histórias que nos ajudam a entender um pouco do grande valor deste tempo de treinamento, ao qual todos os filhos de Deus são submetidos com o objetivo de conduzi-los ao crescimento, à maturidade, para que eles desfrutem da verdadeira prosperidade. Dentre outras histórias quero me deter na de José (Gênesis, capítulos 39 a 50).

José era o filho preferido de Jacó. Este “privilégio” acabou se tornando em combustível para a inveja que os irmãos sentiam dele. A inveja acumulada se transformou em ódio e desejo de aprontar com o caçula mimado. Quando surgiu uma oportunidade os irmãos mais velhos tramaram e executaram um plano macabro contra o irmão adolescente: lançaram-no em uma cisterna sem água e, em seguida decidiram vendê-lo a uma caravana de nômades que passava pelo local em direção ao Egito. Ao pai, disseram que o rapaz tinha sido devorado por alguma fera do campo.

Este seria o fim de José? Em certo sentido sim. Ali teve o início do fim de um José para o nascimento de outro, muito diferente interiormente do outro. Naquele fundo de poço, iniciava o processo de metamorfose do que viria ser um dos maiores nomes da história bíblica. Do fundo do poço ele passou a ser uma mercadoria nas mãos dos ismaelitas. No Egito, foi exposto na praça dos escravos e arrematado por um alto oficial do Império.

Você pode imaginar o que se passava na mente e coração daquele adolescente? Internamente devia estar em convulsão. Mas era o tempo de Deus na vida dele, o tempo imprescindível de treinamento; tempo que a maioria não deseja, mas que todos necessitam. Era o tempo de se despir das “roupagens cenográficas”. José precisava aprender que não fora criado para ser mimado, mas para cumprir um propósito que repercutisse na eternidade. Para isso Deus precisava treiná-lo.

Na casa de Potifar, José passou a ser mais um escravo. Entretanto, Deus o distinguiu entre todos. Tudo que ele fazia Deus colocava a mão e abençoava. Não demorou para que o seu amo o colocasse sobre todos os demais escravos. Pronto! Agora José atingiu o posto máximo. Negativo! Aquele era apenas mais um estágio no projeto de treinamento. Mais algumas “roupagens” precisavam ser removidas. Entra em cena, então, a esposa do dono de José, uma mulher que viu naquele belo jovem a possibilidade de satisfação dos prazeres sexuais. Se José consentisse em satisfazer os desejos de sua dona certamente seria muito bem recompensado. Em contrapartida abriria mão de chegar onde o Criador tinha planejado para ele. Sua decisão levou-o à prisão. Agora sim, era o seu fim! Não! O tempo de prisão seria necessário para despi-lo inteiramente. Esquecido por todos, mas protegido por Deus, esta era a real condição de José. Quando já não tinha mais nada, não podia esperar por mais ninguém, mas mesmo assim continuava apegado ao Senhor, o milagre aconteceu. José foi chamado para interpretar uns sonhos muito estranhos que perturbavam o poderoso Faraó. José não era mais um adolescente assustado, mas um adulto amadurecido e aprovado perante as mais duras provas. Foi colocado no posto de segundo homem mais forte do Império Egípcio. José somente estava pronto para o trono quando esteve pronto para servir, até mesmo em uma prisão.

Esta história de José nos ensina que é impossível ser “José do Egito” sem primeiro ser o “Zezé sonhador”, o “Zé da cisterna”, o “Zé da praça de escravos”, o “José escravo”, o “José mordomo”, o “Zé do calabouço”.
Talvez você esteja desejando ser poderoso e influente para que as pessoas olhem para você. Se esta for a sua motivação, desista da parceria com o Senhor Jesus. Não é possível alguém ter o poder de Jesus sem ser dele, integralmente dele. Para ser dele, inteiramente dele, você precisa abdicar de todas as “roupagens cenográficas”. Isto pode levá-lo a locais não muito agradáveis ou confortáveis, mas que produzirá o resultado esperado por Ele. Você está disposto?