Qual é o grande “barato” da vida? O que a torna tão espetacular e singular? Sem nenhuma sombra de dúvida é o fato de que ela é real. Todo ser vivo está inserido em um mundo real. Dentre todos, o ser humano é o único que insiste em se esquivar da realidade da vida. A indústria do entretenimento contribui muito para que a humanidade se torne cada vez mais alienada no que diz respeito à eternidade. O mundo do “faz-de-conta” é muito mais populoso do que o mundo real. A fantasia é muito mais divertida do que a realidade. Por exemplo, se o meu time perde no mundo real, no meu game as coisas podem ser muito diferentes. Monto um campeonato e na ficção ganho do mesmo time que derrotou o meu no mundo real. Fácil assim. O problema é que na vida real as coisas não podem ser consertadas desta maneira. A vida é para ser vivida, e não temos muitas chances como nos games.
Um dos grandes problemas da sociedade nos nossos dias é que as pessoas imaginam que podem administrar suas histórias como se estivessem em um “game”. No mundo do “faz-de-conta” as coisas podem ser do jeito que eu desejo. A história tem o enredo que eu quero. Neste mundo não há espaço para o fracasso, para a derrota, para o sofrimento, para a dor, para a angústia, para a desilusão, para a traição… Quão distante da realidade está este mundo! Ninguém pode viver, experimentar esta ilusão do lado de cá da eternidade. É fato que existe uma realidade destas: um lugar onde não há noite, nem dor, nem sofrimento, nem lágrimas, nem fome, nem tristeza, nem saudade, nem nada que possa sequer representar o pecado. Todavia, este lugar está reservado para os que além de entenderem que deste lado de cá da eternidade a vida é ao vivo, é real, é dura e muitas vezes se nos apresenta com muitos obstáculos e desafios, se submeteram ao senhorio Daquele que governa os dois lados da eternidade: o Eterno Deus.
Todos os que passaram o governo da vida para as mãos do Criador, entendem que dependem dele para tudo. Às vezes temos a compreensão equivocada de que uma pessoa somente se curva diante de Deus para lhe entregar toda a vida para a vida toda, quando não têm mais nada a que se apegar. Este fato não revela toda a verdade, pois a história nos mostra que pessoas abastadas também entregaram o governo de suas vidas ao Senhor Deus.
A Bíblia nos conta a história de um homem chamado Israel que colocou toda sua existência nas mãos do Senhor. Podia, como seus contemporâneos, confiar em sua riqueza, em seus bens, em seu poder econômico, mas preferiu ser governado por Aquele que governa a história da humanidade.
Israel nem sempre foi chamado assim. Houve um tempo em que se chamava Jacó, cujo significado é: “aquele que pega pelo calcanhar”. Ainda como Jacó teve um encontro marcante com Deus. Fugindo de seu irmão o Senhor se revelou a ele e lhe fez a seguinte promessa: “Eu sou o SENHOR Deus de Abraão seu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que você está deitado, darei a você e à sua descendência; E a sua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em você e na sua descendência serão bendita todas as famílias da terra; E eis que estou com você, e o guardarei por onde quer que você for, e lhe farei tornar a esta terra; porque não lhe deixarei, até que haja cumprido o que tenho falado com você” (Gênesis 28:13-15).
Depois de mais de vinte anos vivendo na distante terra dos parentes de sua mãe, Jacó decide voltar à sua terra. Agora não era mais um homem sozinho e sem nada; era um homem riquíssimo, com uma numerosa família e muitos empregados. Não obstante a todo o poderio adquirido nos anos recentes, seu retorno à terra natal estava envolvido por um enorme temor do irmão, a quem havia traído e sobre quem sempre encontrava uma maneira de levar vantagem. A viagem foi longa e cansativa. Chegando à terra de onde havia saído anos antes, tratou de programar o encontro com o irmão: enviou numerosos presentes adiante de si com a intenção de abrandar a ira de Esaú.
Neste momento de grande tensão, as atitudes de Jacó revelam que Deus havia se tornado TUDO para ele (Gênesis 32). Os presentes poderiam apenas aplacar a ira de Esaú, mas não poderiam detê-lo, caso intentasse o mal. Quando Deus se torna de fato TUDO para nós, nosso encontro com Ele se assemelha ao encontro que Jacó teve com Ele:
Primeiro, se Deus é tudo, suas promessas não são apagadas da memória (v. 9,12) – Jacó “lembrou” o Senhor sua promessa no topo da escada. Segundo, se Deus é tudo, todo o sucesso deve ser creditado a Ele (v. 10) – não apenas as promessas foram lembradas por Jacó; sua condição de viajante peregrino, desprovido de qualquer bem desta terra foi muito bem colocada diante do Senhor. Terceiro, se Deus é tudo, segurança completa existe somente sob Sua proteção (v. 11) – Jacó demonstrou absoluta dependência de Deus. Se Ele o protegesse, sua viagem seria coroada por êxito, caso contrário, estaria à mercê do irmão. Quarto, se Deus é tudo, todas as coisas na vida tornam-se secundárias diante Dele (v. 22,23) – Jacó esteve só diante do Senhor no momento de maior temor em toda sua existência. Tudo foi colocado em segundo plano: família, status e bens. Quão diferente de tantos outros, que buscam refúgio em “abrigos” derrubáveis! Quinto, se Deus é tudo, Ele se torna o centro de tudo (v. 24,26) – Jacó dedicou tudo ao Senhor: tempo, força, atenção, desejo… nada mais importava para Jacó a não ser estar “agarrado” em Deus. Sexto, se Deus é tudo, a história é profundamente transformada (v. 25) – Jacó saiu daquele encontro, marcado para o resto de sua vida. Nunca mais andou do mesmo jeito, nunca mais viveu do mesmo jeito, nunca mais dirigiu a família e os negócios do mesmo jeito. Até seu nome foi mudado: nunca mais foi Jacó; daquela noite em diante passou a ser conhecido como Israel: um príncipe que prevalece com Deus.
Às vezes declaramos que Deus é tudo para nós. Mas será que não estamos com isso fazendo uma confissão do mundo do “faz-de-conta”? Se Deus é tudo na minha vida, Ele precisa ser TUDO em TUDO, não apenas em algumas áreas ou em alguns momentos. TUDO precisa ficar em segundo plano diante da minha relação com Ele. Se Ele é TUDO na minha vida, TUDO começa e termina com Ele. Se não for assim, minha vida com ele e meu cristianismo, não passam de um “game”, uma realidade virtual. Mas, se Ele é TUDO para mim, vivo a vida real com confiança, mesmo diante da iminência de encontros com os “Esaús” que podem representar grande ameaça à minha segurança.
Gidiel Câmara